O desenvolvimento de carne cultivada, ou seja, carne animal cultivada em biorreatores a partir de células-tronco, vem ganhando força nos últimos anos. Isto porque pode fornecer uma alternativa mais sustentável e ética que não só mitiga o abate de animais, mas também utiliza muito menos recursos naturais do que a pecuária tradicional. Notavelmente, também mostra potencial para sustentar a vida no espaço.
Ao longo do ano passado, a Agência Espacial Europeia (ESA) tem explorado se a carne cultivada pode ser uma opção alimentar viável no espaço, utilizada como fonte de proteína que pode ser produzida in situ.
“O foco é fornecer aos astronautas alimentos nutritivos durante missões de longo prazo longe da Terra, superando o prazo de validade típico de dois anos dos suprimentos embalados tradicionais”, explicado Engenheiro da ESA, Paolo Corradi. “Dados os recursos limitados no espaço, o cultivo de alimentos frescos in situ seria necessário para aumentar a resiliência e a autossuficiência de uma missão, e também poderia fornecer apoio psicológico à tripulação.”
Para testar a alternativa de produção de carne, a ESA financiou dois projetos de investigação independentes – um dirigido pela startup alemã de biotecnologia espacial Yuri e pela Universidade de Reutlingen; e o outro conduzido por um trio de empresas do Reino Unido, Kayser Space, Cellular Agriculture e Campden BRI.
As duas equipes compararam o valor nutricional da carne cultivada com as atuais fontes de proteína estudadas no espaço, incluindo plantas e algas. Eles sugeriram diferentes métodos de produção de carne e tecnologias de biorreatores.
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O astronauta da ESA Alexander Gerst trabalha na experiência Space Algae na Estação Espacial Internacional (ISS). Crédito: ESA/NASA
Os seus resultados, publicados na segunda-feira, mostram que a tecnologia é promissora, embora ainda exija investigação e trabalho significativos antes que a carne cultivada no espaço possa chegar ao paladar dos astronautas.
Para apoiar isto, a ESA propôs um roteiro que descreve as tecnologias necessárias e as lacunas de conhecimento, tais como a compreensão de como as células se adaptam às alterações da gravidade e da radiação. Também iniciará experimentos em suas instalações.
Como funcionaria a produção de carne cultivada no espaço. Crédito: ESA
A agência espacial espera que o desenvolvimento da carne cultivada também acelere a sua adoção na Terra. “A sensação é que estamos no início de um processo que pode transformar a indústria, tornando obsoleto o modelo convencional de produção de carne”, disse Corradi.
“Os países desenvolvidos têm a oportunidade histórica de se afastarem da agricultura e da matança de animais, sendo um processo muito ineficiente de produção de alimentos, insustentável para o planeta, perigoso para a nossa saúde e suscitando cada vez mais preocupações éticas entre a população”, acrescentou.
Para colocar isso em perspectiva, a empresa de pesquisa CE Delft estimativas que a carne cultivada poderia causar 92% menos aquecimento global e 93% menos poluição do ar – ao mesmo tempo que utiliza 95% menos terra e 78% menos água.
A Europa já abriga um número significativo de startups que trabalham nesta tecnologia, incluindo Meatable, 3D Bio-Tissues e Uncommon. A Holanda é o primeiro (e único por enquanto) país da região a aprovar degustações de carne cultivada em laboratório, seguindo o exemplo de Singapura e dos EUA.