O dólar viveu uma nova gangorra e disparou em relação ao real em um curto período de 15 dias que descobriu no começo do mês. De R$ 4,85 no dia 18 de setembro, a moeda americana acelerou até o topo de R$ 5,16 no dia 3 de outubro.
Quem teve a sorte de comprar no fundo e vender no topo embolsou um lucro de mais de 6% – mas quem tinha posição aberta em fundos cambiais nas últimas semanas também saiu ganhando.
Para ser considerado cambial, um fundo deve manter pelo menos 80% do patrimônio investido em ativos relacionados a moedas. Os mais populares dessa categoria são os fundos cambiais de dólar, que apostam nas variações da cotação da moeda americana.
Considerando desempenho até a última sexta-feira (6), alguns fundos de investimento cambiais entregaram ao cotista retorno de mais 4% em 30 dias, capturando, portanto, boa parte da elevação recente do dólar. Considerando mais de 60 carteiras do tipo disponíveis para consulta na plataforma Economática, o rendimento médio foi de 3,91% no período.
Enquanto o investidor comum busca o tão sonhado 1% ao mês, retornos desse tamanho chamam atenção. Mas, será que ainda dá tempo de entrar e ganhar com o dólar nos fundos cambiais?
Para responder, é preciso primeiro olhar para o que os analistas esperam da moeda americana.
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Vô de galinha?
Apesar da tensão nos mercados por conta do conflito entre Israel e o Hamas desencadeado no último final de semana, o dólar não ultrapassou a máxima de sexta-feira e, na terça-feira (10), voltou ao cair.
Os agentes econômicos reagiram bem a um pacote de estímulo da China ao setor imobiliário e, sobretudo, às falas de membros do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), que alimentaram a esperança de pausa nos aumentos de juros do país. Em meio a uma nova onda de apetite ao risco, a divisa americana recuou 1,4% na terça, para R$ 5,05.
Os investidores podem ter dúvidas se a queda irá se aprofundar ou se as novas altas virão diante do ponto de aplicação em exposição a dólar agora. Lá fora, os gestores já estão tomando uma direção.
“O que vemos é um desmonte grande de posições compradas [na expectativa da alta do dólar] após o folha de pagamento alto”, comentou Fernando Bergallo, diretor de assessoria de câmbio do FB Capital, em entrevista à Reuters em referência ao último relatório de emprego nos EUA.
“Este desmonte está a ser feito por conta da fala de dirigentes do Fed, diminuindo que há manutenção da taxa de juros no prazo médio”, acrescentou.
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Uma taxa de juros não tão elevada nos EUA significa, em tese, um dólar mais fraco ante as demais divisas – daí o viés de baixa para a moeda americana na terça-feira. A curva de juros também cedeu nos Estados Unidos, com reflexos sobre os contratos futuros de DI no Brasil.
Em busca de mais pistas sobre o caminho da política monetária dos EUA, o mercado irá detrinchar a ata do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) divulgada nesta quarta-feira (11). Por agora, no entanto, a expectativa por mais quedas é predominante entre analistas.
Dolar é bom, mas melhor ainda com juros
Embora seja instigante no calor do momento, a cotação do dólar pode ser o fator menos relevante na tomada de decisão do investidor.
Para a especialista em alocação Catherine Cruz, o olhar para a flutuação de curto prazo deve ser substituído por uma visão de alocação mais cautelosa, com transportes distribuídos em uma janela maior, buscando fazer o famoso “preço médio” – e sempre com o objetivo colher frutos no longo prazo.
“Se a meta for investir R$ 100 mil, é possível mandar R$ 25 mil por mês, por exemplo, tentando pegar o pagamento do dólar em um período mais longo, para não ficar travado em um só preço. Em cinco anos, não faz muita diferença ter investido com o dólar a R$ 5,10 ou R$ 5,15”, explica.
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Outro ponto de atenção, conta a alocada, é em relação ao instrumento escolhido para ganhar exposição ao dólar: fundos cambiais são óbvios para alguns, embora não sejam tão vantajosos quanto comprar ativos que pagam juros em dólar.
Um dos motivos é a realidade mais favorável no Brasil para enviar dinheiro para uma conta internacional. Apesar dos custos envolvidos, eles costumam ficar abaixo das despesas decorrentes de posições em fundos cambiais, sobre as quais incidem taxas de administração e antecipação do Imposto de Renda (“come-cotas”).
A tributação sobre investimentos no exterior ainda está em discussão na Câmara dos Deputados, mas a proposta de andamento prevê, por exemplo, autorização de imposto sobre a variação do dólar parado em contas internacionais.
Outro ponto em desfavor dos fundos cambiais é a impossibilidade de lucrar com as taxas de juros historicamente altas nos EUA. “Com o nível de juros hoje, em vez de ganhar apenas a variação do dólar, é possível comprar títulos de empresas ou do Tesouro Americano [Treasuries] e garantir a variação do dólar mais uma rentabilidade”, destaca Catherine.
Apesar dos rendimentos de títulos do Tesouro americano terem sido recuperados desde ontem, ainda estão próximos de níveis recordes. Nesta quarta, os papéis de dois anos pagam 4,98% ao ano; os de 10 anos, considerados referência para a renda fixa global, têm rentabilidade anual de 4,56%; e os mais longos, de 30 anos, entregam 4,72% anuais.
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Catherine recomenda uma carteira mesclada com títulos curtos, para aproveitar as taxas mais altas, mas também com Tesouros Por muito tempo, com a perspectiva de que, lá na frente, eles serão comparativamente muito mais rentáveis quando os juros caírem – mesmo em um cenário de “novo normal” para as taxas americanas.
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